Poesias visuais

“O quadro de aflições que me consomem

O próprio Pedro Américo não pinta...

Para pintá-lo, era preciso a tinta

Feita de todos os tormentos do homem!”

– Augusto dos Anjos

A Facilidade é Branca surgiu quando eu, homem negro, me senti acuado enquanto lia um livro em uma praça da zona sul da cidade de Belo Horizonte. Embora não houvesse ali quem me hostilizasse, a cena que se apresentava me hostilizou:

Mulheres idosas negras tomando conta de seus patrões: crianças brancas. Subserviência e uma luz jogada sobre a herança da escravidão e o extermínio ainda hoje da população negra no Brasil.

Entre as mortes violentas intencionais - categoria que reúne homicídio doloso, latrocínio, lesão corporal seguida de morte e mortes por intervenção policial - . 78% foram de negros e 21,7% de brancos. No Brasil, 56% da população é negra, segundo o IBGE.

No caso de mortes pela polícia, a diferença é ainda maior: 84% dos alvos são negros. Em 2021, este índice apresentou queda de 31% entre a população branca, mas cresceu 5,8% entre os negros, em comparação ao ano anterior.

No mesmo ano uma Cartilha racista da Polícia Militar do DF apontava que o assaltante é sempre o negro, e a vítima o branco.

O patriarcado se defende como pode. O inimigo tem cor.

Outros trabalhos do artista:

Sobre o artista:

Preto Matheus é poeta, artista plástico, designer gráfico e editor. Atua na cena de Belo Horizonte há quase duas décadas. Em 2009 foi co-fundador do coletivo de arte urbana 4e25. Atualmente dirige, junto com Miguel Javaral, a editora experimental SQN Biblioteca. O seu trabalho investiga, de maneira ácida e lúdica, as fronteiras entre a escrita, a visualidade e a cultura urbana.