Estou ciente e quero continuar

26/04/23
Publicado por Uno Vulpo

Uno Vulpo, criador do SENTA, conta de forma descontraída os possíveis motivos que o fizeram decidir escrever sobre sexo e drogas na internet.

" Sempre me pego perguntando, porque diabos alguém que não transa nem usa droga resolve falar desses assuntos na internet? "

Talvez ser uma pessoa extremamente insegura, com uma ansiedade que beira a patológica, além de uma família extremamente conservadora na qual tive pouco espaço para discutir o assunto, tenha me tornado um grande pesquisador de duas das temáticas mais espinhosas, problemáticas e cheias de tabus que temos.

No quesito insegurança a sexualidade e as drogas são os temas favoritos para geração de nervosismo e incertezas. Não tem como graduar a educação sexual brasileira ou dizer que ela é isso ou aquilo pois, para isso, inicialmente ela precisa existir. Logo, como todo jovem, eu busquei informações e tutoriais de como me relacionar amorosamente em filmes de comédia romântica fantasiando que amar e se apaixonar seria igual qualquer filme que tenha sido dirigido pelo Woody Allen ou que tenha a Jennifer Garner e Mark Ruffalo como protagonistas. Cresci achando que paixão surgia um belo dia quando alguém deixasse um livro cair no chão e eu tocasse a mão da minha “cara metade” sem querer, trocando olhares posteriormente. Quanto à relações sexuais, o conteúdo já era menos romântico e mais “abrasivo” a partir de cliques quase ilegais - diante da minha idade - no botão “Estou ciente e desejo continuar”. Obviamente não iria dar certo e todas as primeiras vezes foram uma mistura de frustração e incompreensão.

senta e fica a vontade - uno vulpo

Mais objetivamente, eu digo que resolvi falar de tais assuntos na internet por uma motivação absolutamente egocêntrica de procurar saber se era apenas eu quem tinha, na adolescência, tentado fazer sexo oral em si mesmo ou se já teve a curiosidade de saber o sabor do álcool e bebeu a espuminha da cerveja da família adulta. Queria - e quero - sanar as minhas dúvidas e compartilhar numa comunidade as piras, nóias e questões que me atravessaram durante toda a vida. Sexo e drogas são assuntos que normalmente não perguntamos aos nossos pais (os meus conservadores), ficamos com receio de parecer caretas na frente dos amigos e perguntar para algum médico ou psicólogo traz medo de julgamento. Dessa forma, meu foco sempre foi, e é, abrir um diálogo aberto onde todas essas coisas, que passam pela cabeça de todo mundo em algum momento da vida, podem ser corretamente endereçadas e respondidas. Meu trabalho é menos sobre informar e resolver e mais sobre compartilhar e questionar.

No assunto drogas e substâncias recreativas a minha distância sempre foi proporcional com a minha curiosidade. Como sou sempre o motorista da rodada, a sobriedade me permitiu questionar os limites, possibilidades e impossibilidades de diferentes elixires. Num país de PROERD disfuncional onde o foco da abordagem é proibitivo ao invés de informativo, é triste pensar a quantidade de pessoas que morrem na ignorância de não saberem que a mistura de GHB com outras drogas é fatal, ou sem saber que naloxona é antídoto para uma overdose de opióides, por exemplo. Acabar, literalmente, “se fudendo” porque uma informação foi escondida de você ou porque ficou restrita aos círculos privilegiados da academia é uma recorrência triste, desumana e cruel no Brasil. Sem falar que é uma prova real de como não vivemos em um país democrático.

Não existe jeito certo de transar e nem mesmo de usar drogas. Podem existir restrições, regras e limites, mas venho percebendo, conversando e compartilhando as minhas neuras a respeito desse assunto, que as experiências de cada um são extremamente singulares. Numa transa por exemplo, não entram em jogo apenas dois ou mais corpos, mas todos os traumas, dúvidas e medos dos envolvidos. No uso de drogas é a mesma coisa já que cada um tem sua “onda”. O importante nesse processo é perceber que tanto sexo como os nossos comprimidos ou cigarros diários são ferramentas de autoconhecimento e expansão. Quando masturbamos, fumamos ou beijamos, estamos nos aprofundando dentro de si - e do outro - e procurando respostas, comparações, similaridades e as singularidades que eu disse no início do parágrafo e é nisso que está a resposta da pergunta que abre este texto.

SENTO MESMO uno vulpo

Talvez, as minhas inúmeras inseguranças e questões, que me fizeram entrar de cabeça na pesquisa sobre sexualidade, gênero, sexo e drogas, sejam todas reflexo da minha insegurança, medo, dúvida e questão quanto a mim mesmo. Focar a pesquisa em temas tão específicos, mas ao mesmo tempo tão universais talvez foi a minha forma de enfrentar uma busca de mim e de compreender o que eu sou ou como eu me identifico - tentando reduzir os danos durante o processo. No fim, acho que resolvi falar e questionar sobre sexo e drogas na internet, mesmo nunca sendo um ávido transante ou usuário, por querer estar realmente ciente e conseguir finalmente continuar.

Sobre o SENTA:

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O SENTA é um canal dedicado a desvendar o prazer e a putaria em suas diversas formas. Discutir pautas que são tabus sociais e são parte intrínseca do desenvolvimento e relações humanas. O terreno onde o mesmo se discute é baseado nas questões e conversas cotidianas que englobam o prazer. Os objetivos são de informar de forma facilitada uma conversa que está restrita à academia e em outros círculos mais específicos, elucidando dúvidas e discussões, se tornando quase um how to do prazer, outro objetivo é discutir de forma descontraída tabus do prazer de forma aberta e ampla, como deve ser.

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Sobre o autor:

mee

Eu sou Uno Vulpo, que de Uno não tenho nada (risos). Sou médico, designer, artista visual, apresentador, podcaster, criador de conteúdo e de outras coisas também. Tento trazer das minhas referências profissionais uma tradução de como lidar com questões relacionadas com drogas e sexualidade, duas pautas cheias de controvérsias.

Pra mim, falar de sexo e drogas sempre foram grandes tabus, ainda mais numa família super conservadora. Acho que por nunca ter tido contato com tais temas, resolvi virar um nerdzinho dos temas para pelo menos orientar os amigos e parecer menos careta.

[ATUALIZAÇÃO] Usei um bocado de drogas, e assim, minhas opiniões não mudaram das que eu desenvolvi no texto (risos).