O que você ainda não sabe sobre Mac Julia
16/02/22
Publicado por Paloma Parentoni
Uma conversa sobre música, carreira, maternidade, corre independente, parcerias e a vida real da artista.
A proposta era fazer uma entrevista com uma pessoa da cena musical, a escolhida em consenso: Mac Julia. Meu desejo era ouvir dela tudo que ainda não foi dito, principalmente as dificuldades cotidianas de quem encara trabalhar com música e arte no Brasil, eu queria entender o proceder e recebi uma aula de vida.
Fui conversar com uma artista, encontrei uma mãe que bota a família e os filhos a frente de tudo e fica claro, a arte feita por ela também é para eles.
Importante citar: Carol, sua produtora, auxiliou em todo o processo desta entrevista.
Mac Julia soltou o verbo e aqui você pode ler aquilo que talvez nunca leu sobre essa mulher gigante que não escorrega no seu proceder e está só começando a trilha dos seus sonhos imensuráveis.
1. Quem é Mac Julia? Seu nome, sua idade, onde mora, quantos anos tem?
Mac: Meu nome meu bairro (risos)
Muito prazer eu sou a Mac Julia, eu tenho 23 aninhos de idade, sou de Betim (Minas Gerais), nasci em Belo Horizonte mas logo após o meu nascimento voltei pra Betim, minha família é daqui, Bairro Jardim do Alterosas, cresci minha vida toda por aqui.
Eu fui sair daqui para a grande Belo Horizonte em prol da arte, formei no ensino médio, consegui uma vaga no Valores de Minas, um projeto que abrange inúmeros jovens, principalmente vários que eu conheço e foi assim que comecei a conhecer a Grande BH como uma cidade cultural, gigante como é.
Desde que me formei, consegui essa vaga, fazia dança no Valores de Minas e fiquei morando sozinha em BH, consegui um emprego e foi assim, desde muito nova na correria de me manter e ir atrás dos meus sonhos.
Então me deparei com uma gravidez durante esse processo, e tive várias turbulências sem o apoio paterno. Na vida sempre foi eu e minha mãe em todos os aspectos, então tive que deixar a vida que criei em BH e voltar pra Betim, pra casa da minha mãe. Daí, durante um período, fui trabalhar em shopping e passei por essa fase no pós-parto de me reintegrar na arte, de me reencontrar com Belo Horizonte e não desistir do corre de ser quem eu sou.
Eu sou Mac Julia, eu vivo Mac Julia, isto não é só um personagem. Obviamente, meu filho tem a Julia mãe dele, minha mãe tem a Julia filha dela, mas eu acredito que a Mac Julia é desde a infância, sabe? Por mais que seja meu codinome artístico, essa realmente é a pessoa que eu vivo, essa é a pessoa que eu sou.
Então, pra não desistir, assim como a sociedade procura que a gente viva para a maternidade e só, não oferecendo pra gente outras alternativas para ganhar dinheiro como mães, de sermos personalidades onde a gente busca espaço, onde a gente quer desenvolver profissionalmente, eu acredito que depois do meu filho que aconteceu o engate para seguir com o meu sonho, que sempre foi a música, sempre cantar.
2. E hoje, você continua morando em Betim?
Mac: Sim, eu estou em Betim, estou no final da minha segunda gestação que como a primeira não foi planejada, nada na minha vida foi planejado (risos).
3. Então Mac Julia, eu vi uma entrevista sua, um pouco mais nova, cabelo ainda escuro e você estava falando que no momento que seu primeiro filho nasceu, toda essa onda que você me contou agora, dessa dificuldade que a sociedade realmente coloca nas mães, mas você disse que naquele momento, você resolveu: Vou fazer música sim, decido isso agora, porque meu filho vai nascer e se eu não tomar essa decisão vou deixar isso pra trás.
Mas eu queria saber do antes disso, quando você viu que conseguia fazer música? Qual foi o momento? Foi no valores? Qual foi aquele momento que você pegou no microfone, primeira letra, primeiro tudo, eu acredito que isto vem antes do seu primeiro filho e não achei em nenhuma entrevista sua algo que fale sobre isso.
Mac: Eu tinha 12 anos de idade quando escrevi minhas primeiras letras, minhas primeiras composições. Eu era roqueira, eu tocava violão, participava de shows da escola, fazia cover de AC/DC, Foo Fighters e aí a minha tara pela música, porque virou uma tara, eu fiquei louca, tipo mano, eu nasci pra fazer isso aqui.
Foi quando eu comecei a entrar no movi da rua em geral e quando eu quero dizer rua é porque eu andava de skate, fui introduzida na pichação, foi a pichação um dos maiores motivos que eu me vi na arte, a pichação, o grafite, o skate, a rua.
(E aí…. toc toc, a porta de onde ela estava se abre e, o filho da Mac Julia entrou na entrevista, ela pede um momentinho: O garoto pede algo e ela carinhosamente diz: Nós vamos ao médico, depois vamos ao shopping comprar o que você quer, assim que eu terminar aqui tá… ele foi saindo e ela: Filho, fecha a porta ai por favor, obrigada!
Aqui a entrevista parou um pouco para falarmos das crianças que permeiam a nossa vida e foi lindo a Mac Julia terminando este assunto dizendo: Meu filho é tudo pra mim <3
Para você que não conhece, o garoto é um bebê lindo de 3 anos.
Momento fofura, ups.. vamos voltar ao assunto.)
Mac: Mas a hora que eu virei mesmo, foi através da rua, eu estava fazendo um grafite com meu grande amigo Nobruxo e eu tinha mania de cantar enquanto eu grafitava, mania que tenho até hoje.
Eu tava lá cantando música minha que eu tinha escrito porque eu já participava de batalhas de rima, então eu já queria ser MC aos 16 anos mais ou menos e nesse dia o Nobruxo falou:
Velho, tem um estúdio ali do meu amigo, aqueles estúdios bem pequenos caseiros mesmo, sabe? Meu amigo precisa te conhecer!
E ele me levou pro estúdio, foi quando eu gravei a música que chama intro, que não é de nenhum disco, é uma música solta, lançada pelo canal da SPC Records, foi a primeira gravadora que me abraçou, inclusive, e eu tenho um grande carinho pelos meninos e ainda trabalho com eles quando é necessário.
E foi assim…
4. O processo então foi por aí, Nobruxo te achou, você colou na SPC Records, Kaique e companhia toparam e você gravou, mas e aí? Você pagava pelo estúdio ou foi uma parada bem na tora, todo mundo fazendo junto?
Mac: Olha eu não posso falar pelos outros, mas eu dava 50 conto por mês na época para o Kaique e tipo assim, envergonhada, é só 50 conto e tal.
Os caras realmente abraçaram meu rolê, me levantaram, na época eu ganhei um clipe, uma oportunidade muito valiosa porque a turma já me conhecia das batalhas.
5. Vou te interromper pra te perguntar, quais batalhas você frequentava?
Mac: Várias! Itaú Shopping, Barreiro, Zona Norte, muito Sarau, eventos antigos da Caos. Então as meninas da rua me conheciam por isso, porque eu chegava e batalhava, aqui em Betim também já batalhei muito na Roda Cultural.
Mas enfim, voltando ao clipe, as meninas me apoiavam muito e daí, na época, a Rec 16 soltou umas ciphers só de minas e teve eu, Clara Lima e outras. Eu recebi a oportunidade de ser chamada para esta gravação pela Yasmin (a mãe do Jorge, filho do Djonga) ela estava na Rec 16 com ele nesta época e o pessoal da Rec perguntou para o Djonga… Isso é algo que eu quero pautar porque foi muito importante para a minha história, foi uma chavinha que uma irmã abriu pra mim, que foi muito importante para o desenvolvimento da minha carreira. Foi ela quem me indicou para estar participando desta cypher e, através disso, eu conheci os meninos da Rec 16.
Daí fui ampliando meus contatos, fui fazendo meu networking, ganhei um clipe do Rodrigo Noronha, que inclusive é o mesmo que fez o meu primeiro clipe, e é o mesmo que fez “Sofá, breja e netflix”, daí o primeiro clipe deu uma bombada em BH e logo saiu Rimas Gerais. Essa foi a minha entrada definitiva na cena, eu não tinha disco ainda, mas esse foi o meu primeiro degrau, depois disso engravidei..
6. E como foi para gravar seu segundo disco, financiamento, ajuda, quem foram os manos que apoiaram?
Mac: Tive que aprender muita coisa e entender bem a minha produção para realizar esse segundo trabalho.
7. Então você mesmo fez sua própria produção, menino recém nascido nas costas, pegou o boi pelo chifre e bora?
Mac: Exatamente. Levava meu filho pro set de gravação, botava os meninos para me ajudar a olhar, e "peraí um pouco vou amamentar", ia lá amamentava, voltava e gravava mais.
E independente dessa turma não estar mais toda junta hoje em dia, foi uma construção importante na minha caminhada, pois eu pude montar uma equipe pra mim e a maioria que está comigo hoje é a mesma dessa época, inclusive o beatmaker.
É muito confortável ver o que construí... tudo que aprendi a fazer, todo mundo que recrutei, tudo que pedi para ser feito da forma que eu acreditava que daria certo, tudo que aprendi sobre a forma que preciso e devo registrar minhas composições e cuidar do meu próprio trabalho para não passar por situações incômodas e garantir que meu trabalho seja o que banca minhas paradas e dos meus filhos.
8. O que você sente que são as atuais dificuldades hoje de ser uma cantora mineira ?
Mac: Lidar com a exposição, conseguir separar a vida pessoal, da cantora.
O mais complicado da minha carreira é lidar com o psicológico em relação ao que as pessoas esperam da gente, como se a gente não pudesse errar, como se a gente fosse intocável, não só como mulher mas como artista em geral porque eu sei que não sou só eu que passo por isso.
E não é só em Minas, mas em todos os lugares e o que eu posso deixar de dica sobre isso no geral é: façam terapia.
9. Como você faz, além de abraçar essa criança linda e pensar no outro bebê que tá chegando, para cuidar da mente?
Mac: Faço psicanálise, recentemente vou ao psiquiatra também para cuidar e não desenvolver nenhum tipo de pânico ou depressão.
As pessoas projetam uma perspectiva na gente que é impossível de cumprir, é muita frustração que muita gente tem e, às vezes, projeta no artista.
Eu continuo focada em quem sou, de onde eu vim, pra onde eu vou, na minha mãe, nos meus filhos, nas minhas contas e continuar produzindo arte, pois eu não posso parar.
Outra coisa é sobre a grana mesmo. Às vezes é meio complicado, a galera não quer pagar meu cachê. Pô... se não tem grana, negociamos, bora conversar, tá tudo bem. Mas daí os caras vão lá e contratam um cara que tem a mesma quantidade de ouvintes ou até menos que eu e pagam mais caro e tá tudo bem?
Daí eu fico me perguntando: pô é porque eu sou mina né?
10. O que acha dos editais culturais da cidade e do estado, já participou? Acha válido?
Mac: Acho incrível, inclusive foi o que me deu uma força nessa pandemia por falta de show.
11. O que acha da cena atual da música belorizontina, tem espaço para todo mundo?
Mac: Eu acredito que tem sim, tanto que eu acho que é a cena mais foda atual, como eu achava isso alguns anos atrás, tá ligada? Quando outras pessoas estavam no auge, tipo a DV Tribo.
Nós temos aí o Anjinho, a cena do funk pô cê tá doida! Tá dominada no Brasil, o mano com mais de cinco milhões de ouvintes mensais, maior orgulho. Marina Sena seis milhões de ouvintes mensais. FBC, Mac Julia, Ws da igrejinha, Wesley Gonzaga, muita gente boa, muita gente sendo ouvida no país inteiro. Então sem sombra de dúvidas tem espaço pra todo mundo e cada dia que passa a certeza de que a gente não pode se limitar às sessões de ódio das pessoas e vamo nessa resistência, na nossa verdade, se quer chegar lá é correr atrás, que Deus dá, não tem erro.
12. Hoje você consegue viver só de música ou você trabalha com outras coisas?
Mac: Recentemente, nos últimos sete meses eu larguei tudo para viver só de música
13. Quem é sua equipe atual?
Mac: Ah! meus meninos e minhas meninas! Nossa, eu morro de orgulho da minha equipe, você não tem noção, se eu pudesse andar com todos eles pregados na minha testa eu andava. (risos)
Minha equipe graças a Deus foi uma construção muito limpa, se foram todas as pessoas que não eram pra somar e ficaram todas as pessoas que gostam de estar no trabalho comigo, eu tenho aí na minha equipe:
Meu balé, atualmente é constituído pelo João lá da Serra e a Thais.
Minha Dj, que é a Daiane - Dj Dia.
Daí vem a produção que é a cabeça master, porque a gente sabe que nada acontece sem produção e mais uma vez agradeço a Deus, pois estou muito bem equipada com as minhas meninas.
Tem a minha produtora executiva, que está comigo há quase dois anos, a Carol Stuvrt, que é uma grande artista também, escritora, ela é meu braço direito, meu pivô. Então, acho importante estar ressaltando sobre ela, a mina é braba!
A Vick, que também faz produção pra mim de tudo. A mulher é mãe, é diretora artística, fotógrafa, maquiadora, se eu gritar "Vick!" ela vem correndo e faz o que eu precisar.
A Mafê, minha produtora de moda, uma das mais antigas que trabalha comigo (está junto desde que fechei meu primeiro disco).
A Ana Lara, minha styling, que fabrica as roupas e também me ajuda a negociar com outras costureiras e marcas, inclusive o Zé, que é um viado maravilhoso que tem uma marca que chama The Bochi. Eu e Ana conversamos também e gosto de fechar com marcas que são de mães e pessoas que eu me identifico pelo corre.
Tem a Stephany Maia, que é mais recente na equipe porém é minha amiga há muito tempo, ela está na assessoria, principalmente na central de fãs, pois com o passar do tempo, eu percebi que eu precisava ter uma relação melhor com os meus fãs. Talvez não tão direta porque eu não consigo, mas ela me contempla e me ajuda nesta parte.
Recentemente também entrou o André Mimiza, que faz uns trabalhos pra mim mais ligados ao financeiro e me ajuda na coordenação geral da equipe.
E o Fredão, recente também, porque a gente precisava de um homão, para ir aos shows, pegar o cachê, pegar a bebida e tudo o mais.
Muita gente está comigo há muito tempo e hoje posso dizer que tenho a minha equipe formada.
14. E com essa galera toda você precisa fazer produção como antes ou você só conversa e deixa a galera resolver?
Mac: Tô chegando nisso, porque eu não aguento tudo de uma vez não. Eu gosto de passar o olho em tudo, tudo passa por mim, sou chata, minha mãe me deu educação, mas eu gosto de estar com o olho bem atento.
Mas o que eu quero dizer é o seguinte: É uma galera que eu confio de olhos fechados, que eu sei que se eu passar uma demanda eles vão executar.
15. Qual a sua dificuldade em conciliar carreira com um filho, mais a segunda gravidez, eu vejo em suas entrevistas, você fala muito da mãe solo, você é guerreira, sua mãe te dá apoio…
É muito o que a gente vê o Mano Brown falando no podcast Mano a mano: Uma grande parte das famílias brasileiras é formada por vó, mãe e tia. Os homens que vêm agora são os homens filhos destas novas mulheres que a gente está tendo a oportunidade de educar para que no futuro não seja desta forma.
Como você concilia isso: carreira, show, gravação de clipe, menino pequeno pra levar no médico, entrevista, viagem para trabalhar, gravidez, tudo junto?
Mac: Nossa menina, as vezes dá vontade de chorar. (risos)
16. Mas e aí, o que você faz?
Mac: Não pode chorar né amiga. Aí tem que correr. Respira e vai!
A minha mãe é a base de tudo, inclusive, sinto o cansaço dela que é igual ao que eu também sinto. É muito dividido este sofrimento que a gente passa. Graças a Deus eu tenho ela que me ajuda muito com meu filho, consequentemente eu fico com o trabalho de manter a casa, limpar tudo, manter o de comer, todas as despesas, as minhas, as dela e a do meu menor.
É preciso ter uma cabeça com 200 repartições para você não surtar e conseguir dar conta de tudo.
O que vem me ajudando é que recentemente o pai do meu segundo filho tem ficado comigo o dia inteiro, todos os dias e me dá uma força com meu primeiro filho.
Mas se não fosse isso, ia tá aquela sessão: é desespero, é contratar alguém para arrumar a casa, porque não dá, simplesmente não dá ou eu tercerizo ou fico louca. Daí pode internar.
Eu vejo essa exaustão vinda da minha mãe, que sempre fez de tudo para as coisa darem. Não sou eu quem fica em casa cuidando do meu filho 24 horas, é a minha mãe, ela gosta disso. Já tentei mudar a situação, mas além dela gostar, foi a forma que a gente encontrou de fazer. Não tem como fazer de outro jeito.
As pessoas implicam com as mães em geral. Quando vê a mulher trabalhando ou vê tomando um copo de cerveja, como se elas não estivessem no direito de viver isso. A gente tem direito sim e se tiver apoio, como eu tenho da minha mãe, é mais tranquilo, é aliviante. Então o que eu sempre digo, que vou reafirmar sobre esse assunto, é que gravidez não é morte, filho não é problema, não é dor de cabeça, desde que tenha muito amor envolvido e predisposição.
17. Você considera que sua arte transcende a música? Se sim, como? Eu acho que sim, mas eu queria ouvir de você!
Mac: Como assim, o que você acha, fala mais?
Eu vejo, pelas suas composições, pela forma que você se coloca como mãe, que você já está passando uma mensagem que vai muito além da música. É uma mensagem de força para as mulheres. Isso que você acabou de falar agora sobre o formato de criação dos filhos, quando você assume suas gestações com tranquilidade, sem ser o fim do mundo ter um filho, tipo, você tá lá gravidona de mini saia cantando “te cuidei lá em casa, preparei jantinha, segunda cê foi embora sem cordão e eu sem calcinha” e é isso, eu sou mulher, eu transo, tô grávida, assumo meu corre e daí?
Então eu acho que tem um empoderamento e uma força feminina que você passa, principalmente para as meninas mais jovens, que eu considero importante e essa mensagem, pra mim, beira um trabalho social que você faz com sua música, que talvez quando estiver mais velha você vai perceber isso!
Mac: Não tinha pensado nesse lado social, mas eu acredito que sim, porque eu não gosto de falar mentiras nas minhas letras.
Eu não escrevo letra por escrever.
Hoje em dia, lógico que estudando sobre como fazer música, aprendi uns macetes que uso vezes ou outras para encaixar, para virar hit musical. Mas eu sempre cantei a minha vivência, sabe Palomita?
Eu sofri muito na minha primeira gravidez. Tive que deixar meu filho em casa muito cedo para ir trabalhar, pois, nessa época, eu não recebia nenhuma ajuda de custo, o pai do meu primeiro filho não ajudava na época. Eu tive que parar de amamentar meu filho aos cinco meses para trabalhar, ou seja, antes do tempo que ele poderia ficar amamentando. Então quando eu comecei a contar sobre a minha vivência no meu primeiro disco e percebi que eu tinha jeito pra isso, foi onde eu abracei a mim mesma entende?
Por isso nunca parei pra pensar sobre uma causa ou um serviço social. Porque é sobre mim, é sobre a minha história. O que faço é cantar a minha história para as pessoas. Fico muito feliz que várias mães solteiras e, no geral, se identificam com meu corre e sobre eu cantar o que eu canto hoje, que são músicas explícitas, em que eu falo sobre a sexualidade livremente. É porque é algo que eu realmente acredito que a gente precise quebrar esse tabu, que é algo natural, tanto que quando me perguntam em entrevista “Ah! Como é o machismo, como você lida com os homens?”.
Pô eles que tem que lidar comigo tá ligada? Eles que sofram, eu não tenho que me explicar. Eu tô fazendo o natural aqui, se isso vai deixar o patriarcado de cabelo em pé, vai ficar de cabelo em pé e eu vou continuar vivendo a minha vida e o que é natural. Eu tenho os meus direitos e ponto.
Eu não falo sobre sexo porque eu sou sem vergonha. É porque é o que eu vivo e já chega das mulheres ficarem sendo sexualizadas, porque todos eles usam as mulheres para fazer música e nenhum deles colocam elas no topo junto com eles, e eu estou dizendo isso no geral, não quero apontar dedo pra cena masculina, eu quero que exista esta naturalização e é isso que a minha música traz.
18. Me fala as datas dos seus discos e quantos são:
Mac: São 4 discos. O primeiro é Suasória de 2 Setembro de 2018. O segundo Love Me Two Times de 2 Setembro de 2019. O terceiro é $imbio$e, um ep que considero disco, são 5 músicas, lancei com o Pj Bala em 19 de fevereiro de 2020. O quarto é Juma, lançado em 28 Maio de 2021.
19. E tem alguma coisa especial com essa data de 2 de Setembro?
Mac: Tem! Eu tentei manter um lançamento por ano mas eu não consegui manter. Eu soltei meu primeiro disco um mês depois que meu primeiro filho nasceu.
O disco já estava pronto antes dele nascer. Eu já podia ter soltado, mas começou a dar várias coisas erradas e eu resolvi esperar. Pô, eu tava ruim da cabeça, meu peito todo rachado, minha barriga com sete camadas abertas e esperei um mês até tudo dar uma ajeitada.
Daí, quando meu filho fez um mês, lancei meu primeiro trabalho e foi aquilo tudo: choradeira, insegurança. Mas eu acredito que foi o trabalho que me colocou de uma forma sólida no jogo.
20. Quais são os objetivos para o futuro da sua carreira, aquela famosa pergunta, onde você quer chegar?
Mac: Ah! Gata, eu sou aprendiz de Anitta né, meu amor? Nada menos que um VMA, um desfile de gala, tapete vermelho. Eu tenho sonhos muito altos, quero conhecer muita gente. Eu só comecei e se for pra colocar em questão de perspectiva de onde eu quero chegar... é imensurável.
Um tempo atrás, era meu sonho chegar onde eu estou hoje. Então eu acredito que através da força, da garra, do querer, é tudo que a gente projeta na mente também. É imensurável onde eu ainda posso chegar.
21. Você, que já fez produção para você mesma durante tanto tempo, pensando nisso, já subiu alguns degraus no seu objetivo. Qual seria o próximo degrau a subir até chegar lá no imensurável?
Mac: Meu próximo degrau é conseguir sair do país e fazer uma tour. Eu tenho ouvintes em Portugal, nos Estados Unidos, uma quantidade até boa sabe, na África. Enfim, acredito que este é o próximo sonho que eu quero realizar.
É conseguir fazer com que minha música chegue ao vivo para toda essa galera.
22. Chegando nos finalmente do nosso papo, qual você considera que foi o seu melhor show?
Mac: Cenário da Serra, 2019. Eu abri o show do FBC, antes de mim teve Hot e Oreia.
Gata, aquele show foi diferente, tinha uma coisa ali. A energia, a galera, ninguém ali me conhecia direito, eu cantei muito das músicas do meu primeiro disco, teve bate cabeça e o que é sempre muito bacana é porque é muita mulher e amassa e bate cabeça de mulher. Então, sem sombra de dúvidas, o mais marcante até hoje foi esse show. Virou uma chavinha tipo: velho, as pessoas me escutam, esse rolê tá dando certo.
23. Você quer acrescentar mais alguma coisa para a gente finalizar esse perfil da Mac Julia contando a real da sua carreira entre alegrias e dificuldades?
Mac: Eu quero que você deixe bem claro, que eu vim dessa cultura de rua, mas eu sou uma artista, uma musicista, eu quero fazer música para além do Funk, além do Rap, além da MPB, quero fazer música para as pessoas ouvirem e sentirem.
Eu sou uma compositora. Eu escrevo música. Eu escrevo o que vem da alma. Então, não quero que as pessoas esperem muito de uma coisa só vinda de mim e aguardem, quando chegar abracem, pois eu faço com o coração e com todo o amor possível!
***
Páginas da Mac Júlia:
***
Quem entrevista:
Paloma Parentoni atua na produção cultural desde 1997 tendo hoje 24 anos de profissão, atuou em todas as áreas da cultura, mas seu amor sempre foi pela comunicação e a música.⠀
Em 2012 ganhou o Prêmio Funarte Artes Visuais pelo seu projeto de Intervenção Urbana “ O trajeto do afeto", o projeto continua ativo nos dias de hoje e desta experiência Paloma expandiu as intervenções urbanas para instalações e cenografias.⠀
Atualmente é curadora do Savassi Festival, do Clube de Jazz do Café com Letras e assistente de direção na empresa Pública.Art. Foi curadora e produtora do Festival Conexão, esteve presente em vários eventos de Belo Horizonte e também em São Paulo, dentre eles: Virada Cultural BH, Festival Transborda, Carnaval de Rua de BH, Festival Sensacional, Savassi Festival, Festival Internacional de Teatro de Belo Horizonte, Cura - Circuito Urbano de Arte, Festival da Quebrada, Festival Pilantragi (SP) e outros.⠀
Paloma oferece, através da sua empresa Palomita.lab, uma diversidade ampla de serviços no meio cultural, alguns deles são: Mentoria para a elaboração de projetos de Lei de Incentivo e organização de redes sociais, pautas culturais, Curadoria Musical, Discotecagens ao vivo, Branding Musical para playlists exclusivas, Produção executiva de eventos diversos, Projeto de cenografia e ativações, Coordenação de equipe técnica para eventos, Comunicação Visual para eventos e venda de shows e espetáculos.