Capturar o instante, deixá-lo passar

29/11/21
Publicado por Bianca Perdigão

Desafiando a perenidade, Bia Perdigão conduz seu trabalho sobre o estudo em papel térmico, multiliguagens e o efêmero.

gif1

algumas coisas acontecem e parecem essenciais de serem lembradas, mas por algum motivo não conseguimos. só que elas aconteceram. em algum momento, foram queimadas essas imagens na nossa mente e elas estiveram lá, por um tempo.

quando dentro dessa combustão-linha que é o tempo algo vibra diferente do banal, procuramos guardar a memória pra tentar revisitar o sentimento. uma forma comum de fazer isso é escrever. anotar diariamente sequências lógicas de fatos, pra serem fixados em papel e em mente.

gif2

a questão é que tudo desaparece,

as leis da realidade apontam pra frente sempre em entropia e o papel e a nossa mente vão deixar de existir em algum ponto. seja em 500 anos ou em 5, o que é escrito vai se apagar.

gif3

os momentos que eu capturo nesse papel térmico refletem a brevidade do material. primeiro algo acontece, depois eu queimo esse algo no papel e depois, o algo desaparece. a sequência vai mais ou menos assim: ocorrido-queima-desbotamento. um pico, que explode e decai, que seu valor não se dá pela permanência.

gif-bianca-4

o perene é superestimado.

acredito que o importante é ter existido, ter acontecido em algum momento. é inevitável esquecer, não precisa ter medo, é natural das coisas que elas passem.

gif-bianca-5

full-image

capturar o instante, deixá-lo passar

1capa

2cda

3cavalo

4seu gosto

5chuva

6twist

7quebra molas

8palavras

9caçambafull-image

Sobre a artista, Bia Perdigão:

nasci com exatamente 3 quilos. hoje tenho um calo no dedo mindinho porque sustento o peso do meu celular nele. já tive colesterol alto. adotei uma cachorra grávida. tive uma tartaruga que pulou da janela. sempre tenho ideias enquanto semi acordada e sempre acho que vou lembrar. durmo em posição fetal. na minha vivência artística, pesquiso principalmente a relação entre o tempo e as narrativas visuais. as materialidades são variadas, desde colagens, fotos clicadas ou dirigidas por mim e criações que misturam texto e imagem. busco expandir as noções de fruição do trabalho artístico, como algo mutável dentro do tempo.

retratofull-image

Nossa opinião:

O conteúdo de Bia nos lembra do quão frágil é a memória e da importância de aprender a soltar, deixar ir, desapegar. Curioso é o fogo promover o apagamento do "algo" no papel, cumprindo um ciclo diferente do que é na vida. Primeiro a gente se ascende e depois apaga, a medida que o fogo diminui, até virar brasa e por fim cinza semiótica.