A cidade é um vórtex

eu quase não paro. sempre ligadona, pensando no próximo compromisso, procurando aonde ir, esperando mensagem de alguém, pensando até quando minha bateria vai durar. depois de mais de um ano em isolamento, voltar ao ritmo da cidade tem sido um desafio pra mim. sinto como se jogasse xadrez com o tempo, tentando adaptar meu relógio de dentro sem virar cronômetro, encontrar as deixas no cotidiano pra sair dessa sensação de ser máquina e não perder o eixo.

a fotografia sempre foi minha aliada nessas fugas. o olhar atento, eu penso, é uma forma de subverter velocidades. imaginar, criar narrativas. uma forma de meditação. eu deixo de simplesmente olhar e procuro de fato enxergar a essência do mundo que me cerca. é uma forma de organizar meu olhar viciado no multiverso de imagens de instagram e encontrar no cotidiano aquilo que conversa com a minha própria realidade, com aquilo que tá dentro de mim. me faz sentir menos só mais uma e mais uma só.

com a colagem também é um processo parecido, é terapêutico pra mim sentar na mesa por horas a fio procurando em todo tipo de revista aquilo que prende meu olhar e floresce na minha criatividade. quando termino uma colagem, olho pro que fiz como se fosse um espelho inconsciente. repenso várias vezes o resultado invisível das conexões visuais que criei ali. olho. paro. penso. olho de novo. e de novo. cada elemento tem um significado interior, um sentimento próprio, seu lugar no meu universo. observo atenta, porque sei que na próxima vez que eu me sentar ali, trarei outras fórmulas pro papel. em RECORTA E COLA misturo esses dois exercícios de contemplação.

"quando termino uma colagem, olho pro que fiz como se fosse um espelho inconsciente."

"repenso várias vezes o resultado invisível das conexões visuais que criei ali."

fiz um ensaio no centrão neurótico e convulso de BH, inserindo o modelo no meio do movimento como uma carta fora do baralho, passageiro do tempo. com a linha de recortes e rabiscos costurei algumas dessas fotos com outras mais antigas que fiz também pensando na pausa, no olhar, atentar e existir na singularidade de um momento.

Sobre a artista:

Nascida em setembro de 2001, Teodora Velloso Barreto é uma artista visual que cria através da fotografia, da colagem e do cinema. Atualmente cursa Cinema e Audiovisual no Instituto de Comunicação e Artes - UNA, em sua cidade natal, Belo Horizonte, Brasil.

Nossa opinião:

Quem anda pelo centrão de Belo Horizonte, certamente, em algum momento, sentiu-se tontear pelo difuso infinito de informações. Todo centro urbano reserva em si o caos e do caos, Teodora Velloso considera que "a cidade é um vórtex".